Sergio Cruz Lima

O imperador e o artista

Por Sergio Cruz Lima
Colaborador


Em agosto de 1820, sob inspiração da Revolução Francesa, eclode na cidade do Porto a Revolução Liberal, um movimento de cunho abertamente liberal, que teria sérias repercussões tanto na história de Portugal quanto na história do Brasil. O movimento vitorioso força o retorno de Dom João VI e da corte portuguesa, que se encontravam no Rio de Janeiro há mais de dez anos, e coloca um ponto final no regime absolutista português com a ratificação e implementação da primeira Constituição lusitana de 1822. E o movimento que redunda na independência do Brasil está diretamente vinculado à eclosão da Revolução Liberal do Porto.

 
Com a derrota napoleônica em Waterloo, sem mais razões políticas para permanecer no Brasil, a vitória da revolução liberal força Dom João a retornar a Lisboa no propósito de acalmar os ânimos e jurar a Constituição que fora aprovada, mesmo sem a sua participação. No Brasil, Dom Pedro permanece como príncipe regente. Ao desembarcar em Lisboa, Dom João VI logo se vê às voltas com a oposição de sua esposa Carlota Joaquina e do filho dom Miguel, que se negam a aceitar a nova Constituição. E ambos passam a tramar a deposição do rei com sucessivos levantes como a Vilafrancada, em 1823, que logrou impedir a ascensão do partido ultra-reacionário e manter a posição determinante de Dom João VI no xadrez político nacional, e a Abrilada, em 1824, que permitiu a demissão do príncipe Dom Miguel do cargo que ocupava no exército lusitano, a libertação dos presos políticos e a captura dos apoiadores do filho Dom Miguel, que foi embarcado para a França e, logo depois, exilado em Viena, enquanto Carlota Joaquina era internada no Palácio de Queluz.

 
É justo nesta época de incertezas, que o artista lusitano Pedro Alexandre Cravoé deixa seu país e embarca para o Brasil. Como é pessoa benquista pelo rei português, este lhe concede uma carta de recomendação ao filho, Dom Pedro I, ainda príncipe regente do Brasil, mas já envolvido com pessoas que sonham com a independência. O artista chega ao Rio de Janeiro resolvido a retirar-se para a província do Espírito Santo, caso as coisas não lhe saiam muito bem. Escolhe o Espírito Santo, e tem uma razão especial para tal, sua irmã vive lá. Como previra, as coisas não lhe correm nada bem e Dom Pedro, diversamente de seu pai, não faz bom juízo do artista. Claro que o príncipe recebe o lisboeta. Afinal é um recomendado do pai. Quando Cravoé chega ao Paço Imperial pergunta-lhe Dom Pedro com ar desabrido: “Quem és, de onde vens e para onde vais?” E a resposta segue-se logo: “Sou Pedro Alexandre Cravoé. Venho do ´pai´, dirijo-me ao ´filho´, se ele não me atender vou para o ´Espírito Santo´”.

 
Dom Pedro, que quando jovem era malcriado, briguento, namorador e festeiro e que tinha pouco interesse por livros, etiqueta e pelos trabalhos relacionados à corte portuguesa, preferindo ficar com os seus cavalos, gosta do artista, ri-se de bom rir e, alguns dias depois, o artista lusitano já está empregado no Paço Imperial e conquista as boas graças do príncipe regente. Assim era o nosso primeiro imperador.​

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